10 agosto, 2010

já perdi mais que um Feio

António Feio morreu. Pereceu na sua luta contra uma doença que a ciência ainda não domina. Aplausos e muitas homenagens se fizeram sentir, falou-se dele e do papel marcante que teve no teatro e cultura.

Num ano de baixas difíceis no nosso elenco cultural, (Rosa Lobato Faria, Saramago e António Feio) dou por mim a pensar que estas pessoas que mereceram tantas palavras no www, em jornais e revistas e estranhos nos seus funerais, a mim o que me eram senão exemplos sociais? Pessoas que nos enriquecem indirectamente, que nos tocam á distância do infinito. Que não souberam das minhas lágrimas e risos e ainda assim lá estamos nós a escrever-lhes nos nossos blogs e a avisar os amigos por sms da perda nacional.

A vida tem-me endurecido, pois o que pensei quando soube da morte deste nobre senhor foi: "Sim, já se esperava e então?" 

Alguém escreveu ou noticiou quando em 2001 me morreu a minha grande amiga de liceu Milena? Ou quando há dois anos partiu o Aires? Amigos do coração, não conhecidos ou pessoal dos copos, amigos dos que estavam lá nas lágrimas e nos melhores risos da minha vida. Amigos que me tocaram profundamente e cujas perdas ainda hoje e acho que para sempre sentirei. 

Não fizeram teatro nem ganharam nobel algum a não ser o lugar efectivo no meu coração. 
E pode-se dizer do António Feio que partiu cedo. Cedo?! Em 2001 a Milena e eu tínhamos apenas 22 e 23 anos quando num dia de Fevereiro ela sucumbiu a um derrame cerebral. (quem é que morre aos 23 anos de derrame cerebral? Ainda hoje me interrogo.)
Foi desde aí que aprendi as tais fortes palavras que não de deve deixar nada por dizer ou fazer, não apenas agora com a partida do Feio...

A Milena faria hoje 34 anos, e é sempre no dia do seu aniversário e não no da sua morte que dela me lembro desde manhã á noite, como se estivesse viva, porque com o riso que ela tinha ainda hoje é dificil acreditar que não o esteja.
Lisboa 1994
Desculpem-me os que em mim encontrarem frieza, mas quem era o António Feio para que este post fosse para ele? Mas talvez quem cedo começou a perder pessoas muito próximas entenda...

1 bicas:

Nocas disse...

Existem "ausências" que no fundo são "fortes presenças" que ficam coladas a nós como pele. As "n" palavras ao António Feio são tão mais simples mas tão menos sinceras ... um brindo aos risos que se mantêm vivos em nós.